Na sociedade contemporânea, o shopping transformou-se na catedral da
cidade: local de encontro e de lazer; templo de consumo e fetiche de progresso
e ascensão social. Assim como nos teatros no Século XIX, os shoppings são hoje
os lugares da cidade para as pessoas olharem e serem vistas, instancia máxima
da cultura social.
O shopping e a cidade nem sempre se comportam como bons amigos. O
primeiro agride à segunda, tirando as pessoas das ruas e confinando-as em
edifícios fechados, isolados da vida urbana, orientando-as exclusivamente para
o consumo interno. O templo do consumo é, ao mesmo tempo, o templo da
antiurbanidade e da antissociabilidade.
Nas cidades civilizadas, as pessoas convivem nas ruas e praças. O
comércio é de rua e a sociedade manifesta vitalidade em um exercício de
cidadania representado pelo uso do espaço público que valoriza a cidade. O
encanto e a admiração que essas cidades despertam derivam, justamente, da
convivência civilizada das pessoas no espaço urbano.
A origem da tipologia comercial pode encontrar-se nos bazares orientais
(hoje, o Grande Bazar de Istambul é um dos remanescentes). Na cultura
ocidental, o arquétipo de centro comercial pode ser vivenciado na Galeria
Vittorio Emanuele, em Milão, espaço do comercio e da urbanidade por excelência,
integrado com as ruas e praças da cidade. Modelo que pode ser encontrado bem
perto de nós, na Argentina: Galerías Pacífico, Patio Bullrich, Paseo Alcorta,
Patio Olmos são continuação natural do espaço público. No Recife, Paço
Alfândega possui esse conceito. Lamentavelmente, a falta de incentivos para a
valorização do Recife Antigo o impede de ser o centro atrativo que deveria.
No Recife, como na maioria das cidades brasileiras, o predomínio do
modelo americano da caixa fechada rodeada de estacionamento constitui uma das
manifestações mais eloquentes da falta de urbanidade que caracteriza nossa
cidade. Enquanto o centro da cidade agoniza por falta de usos qualificados –
comercial, residencial e serviços -, nos shoppings abundam as atividades
intramuros que acabam com o exercício da cidadania manifestado na apropriação
dos espaços públicos. Só o comercio de baixa renda e informal, em um ambiente
caótico e desvalorizado, domina nos espaços da cidade, ao mesmo tempo em que
agride o próprio patrimônio arquitetônico e cultural.
O desenvolvimento de Pernambuco coloca Recife no caminho das cidades
globalizadas. Resulta imperativo a consciência acerca do valor do espaço
público como manifestação da convivência social pacífica e civilizada. A
construção de shoppings fechados não é o melhor estímulo para a valorização da
cidade. Cabe às autoridades eleitas, conjuntamente com a sociedade organizada,
pensar alternativas que permitam superar a cidade fragmentada e excludente se
quisermos que o Recife entre no círculo das cidades do planeta com qualidades
minimamente aceitáveis para o exercício da cidadania e o desfrute dos espaços
públicos.
Blog
Deu o Carai em Vitória
Texto
extraído integralmente do Blog Acerto de Contas
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