Todos que sonham com um Brasil mais íntegro e desenvolvido batem na
mesma tecla, a de que devemos investir maciçamente em educação. Bato nessa
tecla também, mas às vezes meu desânimo faz com que não acredite nem nisso. Ao
ver a matéria que foi ao ar no Fantástico há algum tempo atrás sobre médicos e
dentistas que embolsam salários sem comparecer aos plantões, deixando centenas
de pessoas doentes sem atendimento, pensei: isso lá é problema de falta de
educação? São profissionais que fizeram faculdade, tiveram formação acadêmica.
Não passaram a infância soltos pelas ruas. E, mesmo assim, não possuem o menor
senso de compromisso e ética. São tão corruptos quanto os políticos que eles
xingam em mesas de bar, pensando que são diferentes.
Aí lembro daquela piada que diz que Deus criou o Brasil com uma natureza
exuberante, um clima espetacular, um solo fértil, uma abundância de rios, sem
risco de terremotos, “mas espera pra ver o povinho que vai ser colocado ali”.
Jamais deixaria de cumprir minhas obrigações, ainda mais se trabalhasse
numa área tão essencial quanto a saúde pública, mas não adianta apontar o dedo
para os outros e se excluir do problema. O povinho somos todos nós. Uns sem
nenhum caráter, outros com algum caráter (mas fazendo suas picaretagens
habituais) e outros com um caráter muito bom, porém molham a mão do policial
para evitar uma multa e bebem antes de dirigir, ninguém é perfeito.
Generalizando, somos um povinho essencialmente egoísta. Pensamos apenas
no nosso próprio bem-estar. E ainda por cima vulgares, loucos por dinheiro,
todos emergentes querendo mais, mais, mais. O governo rouba de nós através de
impostos que não são revertidos em benefícios sociais e a gente desconta
passando a perna em quem estiver por perto. Se alguém encontra uma carteira de
dinheiro e devolve para o dono, vai parar na primeira página do jornal como se
fosse um peixe com braços, uma anomalia.
Seguimos morrendo no trânsito, a despeito das campanhas de
conscientização, pois somos arrogantes, achamos que nada pode dar errado
conosco, e se der, a culpa será sempre do outro. Obediência, respeito, espírito
coletivo, nada disso pegou no Brasil. Nem vai pegar. A miséria pode diminuir, o
poder aquisitivo aumentar, haver mais emprego, mais crianças na escola, tudo
ótimo, mas não soluciona a raiz dos nossos problemas: a índole. Algo que se
depura em casa, na infância, no ambiente familiar, mas quem vai regulamentar
isso, como controlar as regras internas, quem vai determinar o que é legal e
ilegal entre quatro paredes?
Cada lar é um país. Somos milhões de presidentes. Está tudo em nossas
mãos. Um poder transformador, se soubéssemos fazer a coisa direito.
Texto de Martha Medeiros
Blog Deu o Carai em Vitória
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