A sociedade brasileira
afunda na desintegração social e este processo fica evidente na violência que
assola as grandes cidades, no avanço do crime organizado e no abismo que separa
as condições urbanísticas de diferentes setores. A reação natural, elementar e
primária da sociedade menos vulnerável é a de autodefesa. Diante da sensação de
insegurança, a proteção individual e familiar ganha destaque e protagonismo até
o ponto de virar psicose social. Criam-se aparatos que alimentam uma próspera
indústria da segurança acompanhada da correspondente extorsão, que cria
dificuldades para vender facilidades.
A arquitetura e o urbanismo
refletem, na construção da cidade, este processo que prioriza a segurança como
condição de projeto. Edifícios-fortaleza, condomínios fechados e paisagens
urbanas de muros, portões e guaritas definem a maioria das cidades contemporâneas
brasileiras. Criou-se um circuito viciado em que edifícios excludentes e
antissociais alimentam a própria marginalidade e propiciam a violência urbana
ao propor estruturas defensivas e desestimulantes do convívio cidadão e da
natural apropriação e vivência dos espaços públicos.
Em nome da segurança cria-se
mais insegurança, afastam-se as pessoas do convívio social, fomenta-se o
deterioro das calçadas e do mobiliário urbano e decreta-se a morte da cidade
como lugar de manifestação social cotidiana e coletiva. O resultado é uma
sociedade individualista, egoísta e narcisista, carente de qualquer rasgo de
humanidade e de respeito pelo próximo carente, e uma cidade sem alma, dominada
pelos automóveis, sem espaços públicos que estimulem a natural apropriação das
pessoas.
A sociedade atingiu um
estágio no qual resulta preciso virar o jogo se queremos evoluir para um grau
elementar de civilidade. O paradigma da defesa torna-se contraproducente para o
objetivo de urbanidade almejado. Integrar é o caminho a iniciar: estimular a
inclusão social, dignificar e priorizar as ações nas periferias e favelas,
desenvolver efetivas políticas de promoção social, propiciar o uso misto,
investir no melhoramento ostensivo do espaço urbano, fomentar o transporte
público eficiente e qualificado, restringir o uso do automóvel. De igual forma,
substituir a cultura do individualismo pela sociabilidade, do egoísmo pela
solidariedade, da exclusão pela inclusão, da cidade segregada pela cidade
aberta, do automóvel pelo pedestre e do interesse particular e mesquinho pelo
geral e solidário na procura de uma sociedade melhor.
O desafio é possível.
Cidades como Bogotá e Medellín superaram, em curto período de tempo, realidades
ainda mais adversas com determinação política, favorecimento do interesse
geral, planejamento persistente e qualidade arquitetônica e urbanística
ostensível. O urbanismo com planejamento de longo prazo e a arquitetura
qualificada e participativa são caminhos comprovadamente eficientes para
empreender uma mudança radical em direção a uma sociedade sadia e uma cidade
civilizada.
Blog Deu o
Carai em Vitória
Texto
retirado integralmente do Blog Acerto de Contas
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