Tenho pressa e pouco espaço.
Voto sujo é o voto utilitário, interesseiro, comprado (ou vendido, seja o que
for). O voto que elege um ficha suja por mais que a mídia aponte seus erros, os
processos, os desmandos, a cara-de-pau.
Esse é o voto sujo, assim
denominado para entrar no jargão político atual de “fichas limpas”, “fichas
sujas” e assim por diante.
O voto sujo é dado por
aquele que recebe cesta-básica, que recebe gasolina para fixar um adesivo de
propaganda no próprio carro, que ganha uma camiseta ou é convidado para um
churrasco.
Voto sujo é do cara que tem
um emprego, ou uma filha ou filho empregado no serviço público, mesmo que seja
aquele empreguinho de ascensorista de uma prefeitura de interior, um motorista
de carro oficial numa remota agência fazendária.
A cada ano, um chefete, ou
cabo eleitoral, liga e dá o comando: o chefe está em campanha. O número é esse.
Estou mandando material para distribuir aí na região. E, a seguir, o aviso que
deflagra o voto sujo:
- Se ele não ganhar, pode
limpar a gaveta que o emprego já era...
Tem comando mais poderoso do
que esse para colocar o voto sujo na rua em busca de outros votos sujos?
Esse voto sujo não tem
preocupação com a população, com o mandato do seu chefe, com a gastança que ele
vai fazer nem com as transações em que vai se envolver, vendendo a própria alma
e as almas que o seguem incondicionalmente para preservar o empreguinho.
Quem paga a conta, o seu
salário, o vencimento do deputado, as mordomias, o aviãozinho, os outros
empregos espalhados pelo Estado? Isso não interessa ao voto sujo. Ele só vê o
próprio umbigo. Sua fonte pagadora é o deputado e ele precisa ser eleito,
senão...
Voto sujo. Que suja a
democracia. Que apodrece o tecido social. Que perverte toda a sociedade, que
contamina as instituições, que prostitui o processo eleitoral. Contra esse voto
sujo, do bolsa-família, do bolsa-escola, do bolsa-isso ou aquilo, não adianta o
meu voto limpo e consciente aqui na cidade.
Nos grotões, o voto sujo
elege Pacdilma, elege Lula e quem mais ele mandar. Lembre-se do telefonema
fatal: se o chefe não for eleito, acaba o bolsa-família... Você está sem
emprego. Seu filho será demitido na prefeitura tal.
Nos últimos anos, o voto
sujo é maioria. Não importa o candidato, o Brasil foi aparelhado para eleger os
mais corruptos. Sarney, riquíssimo, é ironicamente eleito pelos votos sujos do
Amapá e do Maranhão, não por acaso os Estados mais miseráveis do país.
Meu voto limpo só dará
legitimidade ao processo, já que não posso deixar de participar. Não tenho
emprego, não tenho filhos empregados, escolho meus candidatos por suas
propostas e pelo passado supostamente idôneo. Mas sou gota no oceano. Serei
vencido pelos votos sujos.
Pelo menos, a partir de
agora, nada mudará, mas teremos no vocabulário político-eleitoral mais um
factóide: o voto sujo.
Autor: João Campos -
advogado e jornalista.
Blog
Deu o Carai em Vitória
Texto
retirado do Blog do Marco Eusébio
Todo voto válido é voto sujo neste país, pois nenhum candidato fugirá do "sistema" já montado e funcionamento à mil...
ResponderExcluirJá diz o ditado: "Quem é honesto não se mete em política".
Todos sabemos disso...