Na hora da virada, muita gente veio me desejar um
feliz 2012 rindo da lenda (será?) de que o mundo finalmente iria acabar,
então seria melhor enfiar o pé na jaca, fazer tudo o que se tem vontade e dar
um adeus definitivo às convenções. Como não foi marcado nenhum dia para esse
cataclisma, ele pode acontecer em fevereiro — no meio do Carnaval, o que
seria de péssimo gosto — em agosto, novembro ou 12.12.2012 — são
muitas as especulações, mas ninguém sabe mesmo ao certo a data exata desse
aguardado acontecimento.
Ficamos naquela ansiedade de não acreditar que uma
coisa horrorosa como essa estaria para acontecer, mas, no fundo, no fundo, todo
mundo tem uma pulguinha atrás da orelha: por que, durante tantos
séculos, as pessoas acreditaram que o fim se daria em 2012? Alguns dizem que a
culpa é o calendário maia, que não marcaria os anos depois de 2012; outros de
Nostradamus.
Já ouvi alguém dizer que o mundo acabaria mesmo em
2022, ano em que um tal cometa se colidiria com a Terra. Seria uma grande pena
que começassem a acreditar nessa história, porque ando achando divertido viver
como se fosse o último ano — e olha que ele mal começou.
Se o mundo vai acabar, para que continuar aquele
casamento meia-boca ou seguir abrindo mão de pães e doces em nome da duríssima
dieta de água e alface? E para que guardar na conta aquele dinheiro que pagaria
as tão sonhadas férias em Bali ou Miami? Miami é modo de
dizer, porque ninguém merece, às vésperas do fim do mundo, sair do Brasil para
continuar nele.
Nesses últimos dias que nos restam, eu não perderia
meu tempo colocando para fora todos os sapos que tivemos que engolir ao longo
dos outros anos. Sempre imaginei que teria vontade de “dizer umas verdades”
para certas pessoas, mas, definitivamente, o tempo é curto para dar espaço à
raiva, à mágoa e ao ressentimento. Na contagem regressiva, esqueci
essas criaturas, que alívio.
Como tudo pode ir para os ares amanhã ou depois,
por que não dizer de uma vez por todas à pessoa amada como ela é importante
para você, que seu coração para cada vez que você a vê, que você nunca imaginou
que fosse amar tanto alguém do que jeito que a amou — enfim, dizer essas
coisas que fariam qualquer um sair correndo em dias normais, em que o mundo não
acaba? Como não teríamos mais tempo para fazer joguinhos de ama-escorrega, a
verdade do coração poderia ser revelada nua e cruamente, sem
grandes danos para o futuro, que, aliás, não existiria mais.
A vantagem do fim do mundo talvez não seja fazer
tudo aquilo de que se tem vontade, até porque, provavelmente, a polícia e as
autoridades tomariam medidas enérgicas e cercariam as casas e as fronteiras
para colocar uma certa ordem no Apocalipse. O lado bom é poder, finalmente,
dizer o que se sente, porque o ser humano pode ter inventado a Internet, a
pílula e o foguete, mas ainda não resolveu seu maior medo, que, ao contrário do
que se pensa por aí, não é o de morrer.
É o medo de não ser amado.
Blog Deu o Carai em Vitória
Crônica: Bruno Astuto - Revista Época.
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